terça-feira, 30 de setembro de 2014

Há muralhas e há muros e há torres
E depois há eu
Escondida

Shiu... Não digas
A ninguém

Se ninguém me vir
Se ninguém me tocar
Ninguém me pode - nunca! -
Magoar

Há muralhas e há muros e há torres
Quando alguém vem eu
Grito
- Ao ataque!

E ninguém me vê
E ninguém me toca
E ninguém me magoa
Nunca!

Mas dou por mim tão escondida
escondida há tanto tempo
que já nem sei
se ainda há
eu

Shiu... Não digas
A ninguém
- Ao ataque!

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Foi a lua que me lembrou de ti
Foi a lua que te lembrou
De mim
E, no escuro, no silêncio
No nada
Foi a lua

E tu lembraste-te
De mim.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

O quanto mudou em pouco mais de um mês. Quão rápido desapareceram os últimos dois anos. Sinto a tua falta sobretudo na cozinha, quando não consigo abrir um frasco ou tenho de lavar a louça. Muitas vezes nem faço as refeições, pura e simplesmente porque não me lembro que era suposto comer. Tive de reformular completamente as minhas rotinas e isso custou muito. Pensei que estava a lidar bem com isto. Pensei mesmo. Só na semana passada quando dei por mim com tanto tempo livre que nem sabia o que fazer comigo, ou quando me encontrei com um cigarro na mão é que percebi que não, se calhar não estou a lidar assim tão bem quanto pensava. Não choro desde o dia em que acabou, disso ainda me posso orgulhar. Mas porquê? Estava tudo bem até àquele abraço que me deste... Apertaste-me com tanta força contra o teu peito que por momentos julguei ser novamente tua. E a lucidez que me tinha vindo a acompanhar desde o dia do fim desapareceu, dando lugar a uma esperança estúpida de uma reviravolta digna de um filme. Por muito ilógica que fosse, por muito que eu saiba que não vai acontecer. Hoje deitei-me e, por uns breves instantes, sonhei. Dantes sonhava todos os dias, mas desde aquele dia nunca mais tive qualquer espécie de devaneio enquanto dormia. Mas hoje sonhei, sonhei que me querias de volta, que me beijavas e abraçavas como dantes, como se nada fosse. Acordei com um sorriso. Mas era só um sonho, nunca será mais que um sonho.

Às vezes gostava de poder hibernar como um urso. De me esconder, de me fazer pequenina, de desaparecer até a dor ir embora. Já não sei até que ponto estou bem. Já não sei que partes de mim estão bem, que partes de mim ainda são minhas. Quero conseguir controlar-me e sorrir e seguir em frente e dizer que está tudo bem, que vai ficar tudo bem, que eu tenho isto sobre controlo. Mas todos os dias, quando chega o fim da noite e tenho de ir para casa - sozinha - sinto-me assim mesmo. Sozinha. Sozinha sem ti, sozinha sem nós. E hoje, pela primeira vez desde o fim, voltei a chorar. Nobody said it was easy. No one ever said it would be so hard.

Oh, take me back to the start.

domingo, 19 de janeiro de 2014

fugiu,

Estou preocupada comigo. Sei que não é algo muito bonito, sei que é até um pouco egoísta, mas agora, só por um momento, vou-mo permitir. Estou preocupada comigo. E estou preocupada porque está a falhar qualquer coisa. Decidi que não me ia deixar ir abaixo, que não ia voltar a passar pelo que já passei. Decidi que não ia ter período de negação, que ia aceitar e fazer os possíveis para seguir em frente o quanto antes. Quase nem me dei tempo de luto, por não o achar necessário. E estou bem, estou feliz, estou bem disposta. Claro que há coisas que doem um pouco, claro que me sinto um bocadinho mais sozinha, claro que há um vazio. Mas quase nem o sinto, quase nem custa. Quase. Mas lá está, onde estão as lágrimas, a dor, o medo? Onde estão os sinais de que acabou, de que não vai voltar? Pergunto-me se o amor seria mais pequeno do que me parecia. Mas não, era um grande amor, tão grande como eu alguma vez me permiti sentir. E era um amor bom. Era o tipo de amor certo para mim. E por isso não percebo, por isso estou preocupada. Porque é que estou tão bem? Às vezes sou mesmo ridícula, preocupada por estar bem. Mas tenho medo que esta sensação se vá de repente, sem avisar, e que dê por mim a chorar só porque sim. Não quero. Mas esta apatia nem sempre me sabe bem. E gostava de a perceber. Só por um bocadinho, só para ficar mais descansada. Alguém que me explique, por favor, para onde foi o amor?

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

How long will I want you?
As long as you want me too



Descobri em mim uma força que não sabia que tinha, uma força que não me conhecia. E com essa força fui enfrentar outros medos. O escuro, a solidão, o silêncio. E já está, já passou, parece que nem foi nada. Descobri-me maior e mais forte do que me conhecia. No peito um orgulho, um quentinho, apesar do frio que faz lá fora. Afinal, algures pelo caminho cresci mais do que pensava, algures pelo caminho aprendi a lidar comigo. Afinal de contas, no final do dia, só sobro eu. E como dizia a publicidade, se eu não gostar de mim, quem gostará? Os fins podem ser complicados, mas não deixam de ser começos, descobertas, surpresas. Eu descobri-me a mim, descobri que vinte e um anos depois existe uma Inês que consegue aguentar um percalço sem ir ao chão, sem lágrimas, sem grandes hesitações em levantar-se de novo. Fechei a sete chaves aquilo que devia doer. Às vezes os problemas não têm mesmo solução, às vezes não podemos traçar um plano para depois gritar "ao ataque!", às vezes há guerras completamente perdidas. Mas isso não tem de ser mau. Na verdade, não estou a ver nada que tenha de ser mau. Sou eu que estou a conduzir este carro - esta vida -, sou eu que decido por onde vou, como vou, porque vou. E porque sim parece-me sempre a melhor resposta. Lembro-me de um eu mais pequeno, agarrado a cartas, canções de amor e conversas intermináveis para conseguir ultrapassar mais um dia do fim. E agora nem o escuro, nem a solidão, nem o silêncio me assustam. É certo que as saudades aí vêm e vão demorar algum tempo a desaparecer. Mas fiz tudo o que podia e nunca me hei-de arrepender de um segundo que seja. Afinal de contas, fui sempre eu, fui sempre tua. E agora vou ser minha outra vez.